Na vida nem tudo pode ser calculado e previsto. Há coisas que simplesmente acontecem sem nunca estarem escritas na agenda.
Sempre devemos estar preparados para o acontecimento inesperado e, às vezes, indesejável. É possível acontecer um acidente de percurso. Uma paixão inoportuna, doença na família, dívida inesperada… Como diz o poeta Carlos Drummond de Andrade em seu poema antológico e moderno:
“No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
(cf. Revista de Antropofagia, 1928)
Essas pedras inesperadas sempre estiveram ali, mas, num dia qualquer, encontram justamente o nosso dedão. Pensamos que isso sempre aconteceria com os outros. Mas o acidente não poupa ninguém. Quem de nós já não experimentou essas pequenas tragédias? O cantor e poeta popular Amado Batista a descreve de maneira melodramática, mas muito verdadeira:
“O acidente
Tão de repente
Acaba toda a alegria de alguém
E é nessa hora que a gente vê
Não vale nada o dinheiro que se tem.”
Minha jovem amiga do Japão levava uma vida normal. Trabalhava na mecânica pesada e atuava como catequista em sua paróquia. Bastou um acesso de tosse no final de uma missa para revelar-se um mal pior: tumor no pulmão. Em dias, sua vida mudou completamente. Cada minuto foi dedicado a lutar para preservar a vida um dia a mais. Cada minuto, uma vitória; cada respiro, um milagre.
O jovem seminarista Luis Damasceno, nascido no nordeste do Brasil, teve a oportunidade na década de 1950 de começar seus estudos em Roma (Itália). Ali foi ordenado sacerdote. Em novembro de 1963 defendeu sua tese de doutorado na mais importante universidade de Teologia da Igreja Católica: a Gregoriana. Voltou para o Brasil no início de 1964 e faleceu tragicamente em um acidente de trânsito antes de ver seu diploma ou utilizar o conhecimento adquirido em longos anos de estudo. Tinha somente 36 anos.
A vida nos reserva muitas surpresas. Precisamos estar preparados e sempre dispostos a reinventar o amanhã. A história nem sempre está totalmente em nossas mãos. Diz a Bíblia de um modo nu e cru que se recebemos de Deus as coisas boas, por que não aceitar também as desgraças? (Livro de Jó 2, 10). Não que Deus nos envie também coisas ruins. Ele quer apenas o nosso bem. Mas é verdade que nem sempre conhecemos os caminhos por onde temos que passar para alcançar o céu. Pode ser que a ponte seja um acidente, como aquele que um dia aconteceu na cruz, ponte da nossa salvação.
fonte: blog do j
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